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O vírus que pode ser mortal nos morangos do amor - Desvendando a Adesão a Tendências

Atualizado: 29 de jul.




Você já se pegou usando algo que viu em todo lugar, ou falando sobre um assunto que de repente virou febre nas redes sociais? Talvez tenha sido aquele tênis que todo mundo queria, uma música que grudou na cabeça ou até mesmo uma frase que se espalhou como um meme. É uma sensação curiosa, não é? De repente, algo "pega" e todo mundo parece estar na mesma sintonia, fazendo, usando ou falando a mesma coisa. Mas você já parou para se perguntar por que a gente faz isso? Por que somos tão naturalmente inclinados à adesão a tendências?

Essa pergunta, que parece tão simples, na verdade, abre as portas para um universo de descobertas sobre nós mesmos, sobre como funcionamos em grupo e até sobre a sociedade em que vivemos. Não é uma questão de certo ou errado, mas de entender as forças poderosas que nos movem, muitas vezes sem que a gente nem perceba. Se você já se sentiu um pouco "fora da curva" por não entender por que algo virou "moda", ou se simplesmente tem curiosidade sobre esse comportamento tão humano, este artigo é para você. Vamos conversar abertamente, sem termos complicados, sobre o que está por trás da nossa vontade de seguir o fluxo, misturando um pouco de ciência, psicologia e até filosofia, de um jeito que vai te fazer enxergar o mundo e suas "modas" com outros olhos. Prepare-se para uma jornada de autoconhecimento e inspiração, onde você vai ver que entender as tendências é, no fundo, entender um pedaço de si mesmo e da nossa incrível capacidade de nos conectar.




O Que nos Leva à Adesão a Tendências? Uma Jornada Interdisciplinar


A adesão a tendências, esse fenômeno de seguir o que está "na moda", é muito mais complexa do que parece. Não é só uma questão de gostar ou não gostar de algo. Pense na onda recente dos "morangos do amor" – de repente, todo mundo estava comendo, postando e falando sobre eles. O que faz um simples item se espalhar tão rapidamente e cativar tantas pessoas? É um mistério que a gente vai desvendar juntos, olhando para as várias partes que compõem esse quebra-cabeça. Vamos explorar como a nossa sociedade, a nossa mente, o nosso cérebro e até as grandes questões da vida se misturam para criar esse impulso de seguir a "onda".

Para entender a adesão a tendências, precisamos olhar para ela de diferentes ângulos. É como um diamante: cada face reflete uma luz diferente, revelando uma beleza única e complexa. Vamos girar esse diamante e ver o que cada área do conhecimento nos revela.


A Perspectiva Sociológica: A Força do Grupo e o Contágio Social


A sociologia é como um óculos que nos ajuda a ver como as pessoas se comportam em grupos, na sociedade. E, quando o assunto é "moda" e tendências, o grupo tem um poder incrível!

Moda como Fenômeno de Massa e o Efeito "Viral"


Você já notou como algo pode se espalhar nas redes sociais como um vírus? É por isso que os sociólogos usam a palavra "virulência" para descrever a rapidez com que uma tendência se propaga. Não é uma metáfora à toa! É como uma epidemia de ideias, produtos ou comportamentos. Pense nos "morangos do amor": em pouco tempo, eles estavam em todos os feeds, em todas as conversas. Isso acontece porque a gente está conectado. As redes sociais e a mídia digital agem como grandes "estradas" por onde essas "ondas" de moda viajam em alta velocidade, atingindo milhões de pessoas em questão de horas.

Antigamente, para algo virar "moda", demorava muito mais. As informações viajavam em "passos de tartaruga" comparados à velocidade da internet. Hoje, um item pode se tornar um fenômeno global em um piscar de olhos. A gente vê alguém que admira usando, falando ou fazendo algo, e a ideia rapidamente se espalha, de pessoa para pessoa, de rede para rede. A velocidade dessa "infecção" comportamental é impressionante e diz muito sobre como as tendências nascem e morrem rapidamente na era digital. É como se a própria internet fosse uma incubadora gigante de modismos, onde tudo que "fermenta" um pouquinho ganha uma proporção estrondosa.

 

 A Dinâmica da Distinção pela Imitação: Queremos Ser Diferentes, Mas Iguais


Parece uma contradição, não é? Mas é uma das grandes verdades por trás da moda. Desde sempre, as pessoas buscam se destacar, mostrar que são únicas ou que pertencem a um grupo "melhor". Os sociólogos notaram que as pessoas que têm mais dinheiro ou poder costumam usar roupas, acessórios ou comportamentos mais exclusivos para mostrar seu status. É como um desfile constante de "quem tem o quê".

Mas aí vem a parte interessante: quando o "exclusivo" aparece, as pessoas que não têm tanto acesso começam a copiar, a imitar, porque querem se sentir parte, ter um pouco daquela "qualidade" ou "respeitabilidade". E o que acontece? Aquilo que era exclusivo, que dava distinção, vira comum. Então, as pessoas que buscam a distinção precisam criar algo novo, diferente de novo, para se destacar. E o ciclo se repete, sem parar!

  • George Simmel nos dizia que a moda é sempre uma questão de "classes". As modas nascem nos grupos mais "de cima" e são abandonadas quando os "de baixo" começam a adotá-las. Ao mesmo tempo, ele via na gente uma vontade natural de imitar, que nos ajuda a pertencer a um grupo, mas também a nos diferenciar dentro dele.

  • Thorstein Veblen trouxe a ideia do "consumo conspícuo". Sabe aquela pessoa que compra algo super caro ou chamativo só para mostrar que tem dinheiro? É exatamente isso. A moda, nesse sentido, vira um jeito de exibir riqueza, de mandar uma mensagem sobre sua condição financeira sem precisar dizer uma palavra.

  • Pierre Bourdieu via a moda como um jogo mais complexo, onde as aparências são usadas para reproduzir as ideias dos grupos dominantes. Para ele, o que importa não é só o que a gente tem, mas principalmente o que os outros não têm. É um motor constante de transformação, onde o valor de algo está no que ele simboliza, não só no material.

Essa dança entre querer pertencer e querer ser diferente é o que alimenta a moda. É por isso que os modismos têm vida curta: assim que algo vira muito popular, perde o charme para quem busca exclusividade. Aqueles "morangos do amor" que pareciam tão especiais no começo, logo que muita gente começou a comer, talvez tenham perdido um pouco do seu brilho para os primeiros que os provaram. A busca incessante por novidade é uma consequência direta dessa tensão social.

O Papel da Mídia e da Viralização na Disseminação


A forma como as tendências se espalham mudou muito com a internet e as redes sociais. Antes, a "moda" era ditada por poucas pessoas, geralmente da elite ou grandes marcas. Agora, a coisa mudou de figura. Graças às tecnologias digitais e ao conteúdo que você e outras pessoas comuns criam (o tal do "conteúdo gerado pelo usuário"), todo mundo tem voz. Isso democratizou a moda de um jeito que nunca vimos antes.

O fenômeno dos "morangos do amor" é um exemplo perfeito. Eles não foram lançados por uma campanha de marketing gigante vinda de cima. Provavelmente, alguém começou a postar sobre eles, e a coisa "viralizou" de baixo para cima, ou entre amigos (difusão horizontal). Essa rapidez com que algo se espalha faz com que vire "moda" muito mais rápido, mas também perca o apelo de exclusividade em tempo recorde. É o lado bom e o lado não tão bom da nossa conectividade.


A Perspectiva Psicológica: A Necessidade Humana de Pertencimento


Agora, vamos olhar para dentro de nós mesmos. A psicologia nos ajuda a entender por que, individualmente, somos tão suscetíveis a seguir o que os outros estão fazendo.


Prova Social: O Gatilho Escondido da Influência


Você já se viu em uma situação em que não sabia o que fazer ou qual a melhor escolha, e então olhou para ver o que as outras pessoas estavam fazendo? Isso é a "prova social" em ação. É um atalho que nosso cérebro usa para tomar decisões: se muita gente está fazendo algo, a gente pensa "bem, não devem estar todos errados, certo?". É como se a multidão nos desse uma validação, uma garantia de que estamos no caminho certo.

Quando os "morangos do amor" apareceram, e você via todo mundo postando fotos e falando bem, era natural que você pensasse: "Hum, deve ser bom! Preciso experimentar!". Essa popularidade visível funciona como um sinal de que aquilo é seguro, confiável ou desejável, e diminui nossa necessidade de pensar muito sobre a decisão. Em um mundo cheio de opções e informações, a prova social é um jeito rápido de sentir que estamos fazendo a escolha "certa". É um mecanismo psicológico que explica a velocidade com que os modismos nos capturam.


A Necessidade Humana de Conformidade e Pertencimento


No fundo, a prova social está ligada a uma necessidade muito profunda que todos nós temos: a de pertencer. Queremos fazer parte de um grupo, ser aceitos. E para ser aceito, muitas vezes a gente ajusta nosso comportamento ou nossas crenças para se encaixar no que o grupo espera. Isso é a "conformidade".

Existe um estudo muito famoso, feito por um psicólogo chamado Solomon Asch nos anos 1950. Ele mostrou que as pessoas são capazes de ignorar o que elas mesmas veem com os próprios olhos e dar respostas erradas, só para se adequarem ao grupo. É impressionante, não é? A gente pode até não querer, mas a pressão para se encaixar é fortíssima.

Essa busca por aceitação, por se sentir parte, pode nos levar a abrir mão um pouco da nossa própria individualidade. É a tal da tensão: queremos pertencer, mas também queremos ser únicos. A moda joga com isso. Primeiro, a gente adota um modismo para se sentir parte do grupo. Mas, quando ele se espalha demais e todo mundo começa a usar, ele perde aquele "brilho" de exclusividade, e aí a gente busca a próxima coisa nova para se diferenciar de novo. É um ciclo sem fim, impulsionado por essa dupla necessidade humana. A vontade de ser aceito por um grupo, às vezes, fala mais alto do que a vontade de fazer o que é melhor para si mesmo.


Modismos e Comportamento de Consumo: O Caso dos Cabbage Patch Kids


Um exemplo clássico de como os modismos funcionam no mundo do consumo é o dos bonecos Cabbage Patch Kids, que fizeram um sucesso estrondoso nos anos 80. Eles eram bonecos "simples", com a ideia de serem "adotados" pelas crianças, com certidão de nascimento e tudo! Cada um era único, e isso, combinado com a ideia de "adoção", mexia com o desejo de individualidade e pertencimento das crianças.

O fenômeno Cabbage Patch Kids é um caso de "pester power" (poder de importunar), onde as crianças desejavam tanto os bonecos que os pais faziam de tudo para comprá-los, inclusive enfrentar confusões em lojas e pagar preços altíssimos! Isso mostra como os modismos exploram nossas necessidades psicológicas (pertencimento, autoestima, ser único) e sociais (influência dos amigos, pressão das crianças sobre os pais), tudo amplificado por estratégias de marketing que criam a sensação de que o produto é escasso e exclusivo. O caso prova que a "moda" é, muitas vezes, impulsionada pelo nosso próprio desejo de consumidor, que, por sua vez, é moldado por motivações psicológicas complexas. O surgimento e a queda desses bonecos, apesar de sua singularidade inicial, reforça que os modismos, ao se massificarem, perdem seu apelo e caem no esquecimento.

Aqui vou trazer uma vivência minha.

Quando eu tinha por volta dos 10 anos, ficou muito famosa uma caneta com varias cores, era o sucesso do momento. Obvio que eu fiz de tudo para meus pais comprarem uma para mim. Um tempo depois fui agraciado com o presente. Meus pais deixaram bem claro que eu não iria ter presente no dia das crianças, o que realmente aconteceu, já que eu queria muito aquela caneta.

O resultado foi de que usei algumas vezes a caneta e deixei ela “de lado”.

O motivo foi por ser uma caneta que não era anatômica para mão de uma criança. E acredito que nem para um adulto.

Era muito desconfortável além de ter uma mistura de fragrâncias, isso mesmo, vários cheiros misturados já que tinha várias cores. 

 

A Perspectiva Neurocientífica: O Cérebro em Busca de Recompensa


Se a sociologia fala do grupo e a psicologia do indivíduo, a neurociência nos leva ainda mais fundo: para dentro do nosso cérebro. É lá que muitas das decisões de seguir tendências são processadas.


Circuitos de Recompensa e Tomada de Decisão Social


Pense no seu cérebro como uma máquina de recompensas. Ele adora coisas boas! E ele processa recompensas sociais (como a aprovação de outras pessoas, o sentimento de pertencimento) de uma forma muito parecida com as recompensas básicas, como comida ou dinheiro. Quando a gente faz algo que nos traz validação social, certas áreas do nosso cérebro se "acendem", nos dando uma sensação boa.

A adesão a modismos está diretamente ligada a esse sistema de recompensa cerebral. Quando você segue uma tendência popular, como experimentar os "morangos do amor" e receber likes nas redes sociais ou comentários positivos dos amigos, seu cérebro registra isso como uma recompensa. Isso gera um reforço positivo, um sentimento bom que te faz querer repetir o comportamento e, inclusive, influenciar outros a fazerem o mesmo. É um ciclo vicioso e delicioso para o nosso cérebro, que nos impulsiona a "viralizar" as tendências. Esse é o porquê biológico por trás da prova social e da conformidade.


O Papel da Ocitocina e da Validação Social


Você já ouviu falar da ocitocina? É um hormônio, às vezes chamado de "hormônio do amor" ou "do abraço". Ele é super importante para nossas interações sociais e para a formação de laços. Estudos mostram que a ocitocina pode influenciar nossas decisões sociais, especialmente aquelas que envolvem recompensa e conexão com o grupo.

A ocitocina pode ser uma espécie de "facilitador" para a prova social e a conformidade. Ela pode amplificar o prazer que sentimos quando somos validados pelo grupo, quando nos sentimos conectados. Se seguir uma moda te dá uma sensação boa de pertencimento, a ocitocina pode intensificar esse prazer a um nível químico no seu cérebro. Isso sugere que nossa predisposição a ser influenciado socialmente tem uma base biológica profunda, tornando a adesão a modismos uma experiência que nos recompensa diretamente no cérebro.


Assinaturas Neurais da Conformidade e Desvio: O Preço de Ser Diferente


Nosso cérebro não só gosta de ser recompensado pela conformidade, ele também não gosta muito de desviar. Estudos mostram que quando a gente se desvia do que o grupo está fazendo, ou seja, não segue a "moda", certas áreas do cérebro podem mostrar "sinais de erro" ou até sentimentos de aversão. É como se seu cérebro dissesse: "Opa, tem algo errado aqui! Você não está alinhado com o grupo, isso pode ser um problema!".

Isso significa que não seguir um modismo popular pode ser percebido pelo seu cérebro como uma espécie de "punição social" ou um "custo". É um incentivo poderoso, muitas vezes inconsciente, para que a gente se junte à maioria, mesmo que a escolha não seja a nossa preferência autêntica. Por exemplo, se todo mundo está experimentando os "morangos do amor", e você não experimenta, pode sentir um desconforto interno, uma espécie de "punição" neural por não estar fazendo o que o grupo faz. Essa aversão à não conformidade, junto com a recompensa pela conformidade, cria um impulso neurobiológico fortíssimo para que a gente adira às tendências. É difícil resistir!


A Perspectiva Filosófica: Autenticidade e a Sociedade de Consumo


Por último, mas não menos importante, a filosofia nos convida a pensar em questões mais profundas sobre quem somos, o que valorizamos e como a sociedade moderna nos influencia.


O Desejo de Consumo e a Sociedade Administrada


Na sociedade de hoje, o consumo se tornou uma parte gigante da nossa vida. A cultura, de certa forma, "fabrica" e "atualiza" constantemente o que se espera de nós, os "manuais de como viver em massa". Filósofos como Theodor Adorno e Max Horkheimer criticavam isso, dizendo que a gente acaba sendo levado a seguir o que é imposto, perdendo um pouco da nossa capacidade de pensar por conta própria e de sermos realmente livres.

Eles argumentavam que a sociedade industrial transformou o indivíduo em uma "engrenagem" de uma máquina, onde a ideia de ser "único" se confunde com se ajustar ao que o sistema quer. Quando a gente compra os "morangos do amor" só porque virou "moda", será que estamos realmente buscando algo que tem valor para nós, algo que nos faz feliz de verdade? Ou será que estamos apenas reagindo a uma pressão social ou do mercado? A filosofia nos provoca a pensar se nossa liberdade de escolha não está sendo sutilmente manipulada, e se nosso desejo de consumo não é, na verdade, um desejo "fabricado". A "moda" pode ser um mecanismo de controle social muito sutil, que nos leva a consumir sem questionar o porquê.


A Crise da Individualidade e o Mito da Autenticidade


O filósofo Byung-Chul Han nos faz refletir sobre o "vazio" que sentimos na vida moderna. Ele sugere que, para preencher esse vazio, a gente acaba produzindo e consumindo demais, e buscando uma "individualidade" que, na verdade, é uma ilusão. A gente quer ser autêntico, mas essa autenticidade muitas vezes é vendida como um produto: "compre isso e seja feliz!", "use aquilo e seja você mesmo!".

Modismos como os "morangos do amor" oferecem essa ilusão. Ao consumi-los, a gente pode sentir que está sendo "moderno" ou "parte de um grupo seleto". Mas essa "individualidade" é fabricada e dura pouco. Assim que a "moda" se espalha, ela perde a capacidade de nos fazer sentir únicos, revelando que a autenticidade que buscávamos era, na verdade, uma miragem no deserto do consumo. A "moda" preenche o vazio, mas com algo efêmero, que não traz um sentido duradouro para nossa vida.


Conformidade vs. Liberdade: Implicações Éticas


A conformidade, mesmo que nos dê a sensação de proteção e pertencimento, tem um "lado negro". Ela pode nos fazer perder a liberdade e a nossa originalidade. Quantas vezes você já viu alguém aplaudir algo que não gostava, ou curtir uma publicação com a qual não concordava, só para não parecer diferente? Existe uma pressão social forte para que a gente se mantenha "dentro da curva".

A adesão a modismos, com toda essa pressão social, as recompensas do nosso cérebro pela conformidade e a aversão a desviar da norma, pode, sim, colocar em xeque nossa capacidade de tomar decisões verdadeiramente autênticas. A "moda" vira quase uma obrigação, tirando nossa preferência pessoal da jogada. Isso nos faz pensar: o quanto somos realmente livres para escolher o que gostamos, ou o quanto estamos sendo moldados pelos desejos e comportamentos que nos são apresentados constantemente pela sociedade de consumo? É uma questão ética que nos convida a uma reflexão profunda sobre nossa autonomia.

Modismos e Tendências Genuínas: Qual a Diferença e Por Que É Importante?


Para entender tudo isso, é fundamental fazer uma distinção clara entre "modismos" (ou "fads", em inglês) e "tendências" de verdade. Ambos são movimentos coletivos, mas têm características bem diferentes, e saber diferenciá-los pode mudar sua percepção sobre o mundo ao seu redor.

Pense nos "morangos do amor" novamente. Eles foram uma febre rápida, impulsionada pela novidade e pelo contágio social. Mas será que eles vão mudar a forma como as pessoas comem frutas ou interagem socialmente para sempre? Provavelmente não. Isso é um modismo.

Modismos são como fogos de artifício: brilham intensamente por um tempo, chamam muita atenção, e depois se apagam rapidamente.

  • Duração: Curtíssima. Nascem e morrem num piscar de olhos.

  • Natureza: Impulsiva, emocional, superficial, focada na novidade. São como paixões passageiras.

  • Impulsionadores: Novidade, pressão do grupo, a vontade de ter algo que todo mundo tem, e o que as celebridades ou influenciadores estão usando.

  • Impacto: Geralmente limitado, sem causar grandes mudanças na sociedade.

  • Exclusividade: Perdem o valor e o apelo assim que se tornam muito populares ou "superlotados".

Exemplos de modismos ao longo da história: o "pet rock" dos anos 70 (uma pedra de estimação!), a dança Floss, e até mesmo algumas roupas que você vê em todo lugar e somem da mesma forma. Eles são movidos por emoção e pela busca de algo novo, efêmero. A "morte" de um modismo acontece quando ele não é mais novidade e não oferece mais distinção.

Já as Tendências são como rios: podem começar como pequenos riachos, mas crescem, se aprofundam e moldam a paisagem por onde passam, levando a mudanças duradouras.

  • Duração: Mais longa, evoluem com o tempo. Não são fogo de palha.

  • Natureza: Reflexo de mudanças sociais, culturais, econômicas e tecnológicas mais profundas e significativas. Têm uma base mais sólida.

  • Impulsionadores: Valores sociais mais amplos, necessidades sociais que estão surgindo, inovações tecnológicas, grandes mudanças demográficas (populacionais).

  • Impacto: Geram transformações significativas em comportamentos, mercados e até na forma como as sociedades se organizam.

  • Exclusividade: Podem se tornar "mainstream" (muito populares), mas mantêm sua relevância e capacidade de se adaptar, porque estão ligadas a algo maior.

Pense na sustentabilidade na moda (roupas feitas com materiais reciclados, consumo consciente), nas dietas plant-based (vegetarianismo, veganismo) ou no trabalho remoto. São movimentos que vêm crescendo há anos, que refletem mudanças de valores na sociedade e que vieram para ficar, ou pelo menos para gerar uma transformação duradoura. Não é só uma "febre", é uma mudança de rota.

A distinção entre modismos e tendências é crucial. Entender isso te ajuda a não ser levado(a) apenas pela onda do momento, mas a reconhecer o que realmente está mudando e o que é apenas um fenômeno efêmero. Isso te dá poder de escolha e de visão, permitindo que você navegue pelo mundo com mais consciência.

 

Conclusão: Navegando no Oceano das Tendências com Consciência


Chegamos ao fim da nossa conversa, e espero que você esteja sentindo-se mais conectado(a) e inspirado(a) a ver o mundo das "modas" e tendências com novos olhos. A adesão a modismos é, como você viu, um comportamento humano profundamente enraizado, impulsionado por uma teia complexa de fatores que se entrelaçam: sociais, psicológicos, neurobiológicos e filosóficos. Não é uma escolha superficial; é uma resposta às nossas necessidades mais básicas, como a de pertencer, a de ser validado(a) e a de reduzir a incerteza do dia a dia.

A viralização de algo como os "morangos do amor" é um sintoma da nossa sociedade hiperconectada e do nosso ritmo de consumo acelerado. A "moda" se torna um poderoso, ainda que efêmero, mecanismo de validação e pertencimento. A rapidez com que os modismos nascem e morrem é o que os diferencia das tendências mais profundas, aquelas que realmente mudam a sociedade.

Ao entender essa dinâmica sob as lentes da sociologia (a força do grupo e o contágio), da psicologia (a prova social e a necessidade de pertencimento), da neurociência (os circuitos de recompensa no cérebro) e da filosofia (a busca por autenticidade em um mundo de consumo), você ganha uma visão mais completa. Você percebe que o ato de seguir a "moda" é uma manifestação complexa da interação entre nossa biologia, nossa psique individual, as estruturas sociais em que vivemos e as grandes questões culturais e filosóficas que nos cercam.

O mais importante é que, ao compreender essas forças, você ganha a capacidade de fazer escolhas mais conscientes. Você pode decidir não ser apenas um reflexo do que o mundo impõe, mas um ser humano que escolhe o que ressoa de verdade com seus valores, seus desejos autênticos e sua própria singularidade. Não há problema em participar de um modismo se ele te agrada, mas há um poder imenso em saber que você tem a liberdade de não ser levado(a) pela corrente apenas porque "todo mundo está fazendo". Sua autenticidade é um tesouro, e entender essas dinâmicas é um passo fundamental para protegê-la e cultivá-la. Inspire-se a ser você, com toda a sua riqueza e profundidade, navegando nas tendências com sabedoria e consciência.


Pontos Principais para Refletir:


  • Adesão a Tendências é Complexa: Não é apenas uma escolha pessoal, mas um comportamento multifacetado influenciado por fatores sociais, psicológicos, neurobiológicos e filosóficos.

  • O Espectro do Comportamento: A "moda" se manifesta em modismos (curta duração, emoção, novidade) e tendências (mais duradouras, reflexo de mudanças sociais profundas).

  • A Força do Grupo (Sociologia): O contágio social e a busca por distinção/imitação impulsionam a propagação de tendências, amplificadas pela mídia digital.

  • A Necessidade de Pertencer (Psicologia): A prova social (seguir a maioria para se sentir seguro) e a conformidade (ajustar o comportamento para ser aceito) são gatilhos poderosos.

  • O Cérebro em Ação (Neurociência): Nosso sistema de recompensa cerebral é ativado pela validação social, enquanto o desvio da norma pode gerar desconforto, incentivando a conformidade.

  • Autenticidade em Questão (Filosofia): A adesão a modismos pode levantar questões sobre a nossa verdadeira liberdade de escolha e a autenticidade dos nossos desejos em uma sociedade de consumo.

  • Consciência é Poder: Entender essas dinâmicas te empodera para fazer escolhas mais conscientes, valorizando sua individualidade e participando das tendências de forma autêntica, não por mera imposição.

 

 
 
 

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